“Lendo Saramago sinto-me como Ulisses tentando prender
Proteu, o deus metamórfico do oceano; ele passa o tempo todo a escapar”. A
frase de Harold Bloom abre um texto no qual visita os principais romances de
José Saramago, principalmente, O evangelho segundo Jesus Cristo,
para ele a obra-prima do escritor português junto a O ano da morte de
Ricardo Reis. O texto foi publicado como introdução a este importante trabalho organizado por ele
com leituras das mais diversas e fundamentais aos estudos saramaguianos.
Publicado em 2005, José Saramago integra uma prestigiada coleção de
estudos críticos sobre as obras mais importantes da literatura universal.
Reiteradas vezes depois o crítico estadunidense voltou a falar sobre a obra
saramaguiana no tom elogioso que a colocava em relação a nomes com Philip
Roth ou aquele que foi um marco fundamental na sua catedral crítica, Shakespeare;
mas, também em tom de enfrentamento, como quando escreveu sobre
Caim, classificado por ele como “um erro, mas que não deve macular
o nosso sentimento de uma partida gloriosa”.
A relação entre os dois principia
pela leitura que Bloom faz da obra de Saramago e da qual resultou os primeiros
escritos ainda anteriores ao encontro pessoal na Universidade de Coimbra, no
início dos anos 2000. Harold Bloom não foi paradoxal apenas com a leitura de
Saramago; o paradoxo que está, certamente, em toda sua vasta obra crítica,
aliás, é qualidade fundamental à formação de todo importante crítico, porque não
se lida com rigor e seriedade, dois termos que bem definem seu trabalho como
leitor, sem acompanhar muito de perto os múltiplos relevos da criação.
Por Pedro Fernandes de Oliveira Neto
Co-diretor da Revista de Estudos Saramaguianos
O registro do fotógrafo Rui Uchôa data de maio de 2001, quando Harold Bloom reencontra José Saramago na Fundação Luso-Americana na apresentação do número 6 de revista Portuguese Literary & Cultural Studies dedicada ao escritor português. Uma versão do texto final que integra José Saramago foi apresentada nessa ocasião.
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