“Estou inventando mulheres ou talvez, outra forma de ser mulher”
(José Saramago)
Lena Gal, como artista plástica com larga obra dedicada à representação
do feminino busca alcançar esse universo de formas femininas igualmente
pintadas pela escrita de José Saramago. Tudo nasceu depois de ler o livro Retratos para a construção do feminino naprosa de José Saramago, do professor brasileiro Pedro Fernandes de OliveiraNeto; depois foi estar em contato com parte significativa da obra do Prêmio
Nobel de Literatura. Esses dois encontros fez nascer na artista a necessidade
de ir ao que ela chama de “essência” da representação, por um “elo forte entre
as personagens saramaguianas e as da minha linguagem plástica, entre a minha
pintura feminina e as mulheres reais da minha própria história de vida”.
O resultado é uma exposição inspiradora. “Identifiquei a mesma força,
os silêncios, os sentidos do olhar, a intuição, o amor, a sensualidade, a
denúncia de casos de violência e do assédio sexual, a cumplicidade feminina do
despertar para a consciência do ser mulher, e deixei-me guiar pelo meu interior,
pelo sentir este foco feminino, pelo envolvimento emocional e pelos momentos de
ansiedade para, num trabalho criativo, pela forma, pela cor e pelo simbolismo
dar rosto a mulheres como Blimunda, a mulher do médico entre outras
mulheres/personagens tão fortes, tão sábias como tantas mulheres da vida real
que encarnam o arquétipo da Grande Mãe que pinto” – lembra a artista.
Lena Gal é de S. Miguel (Açores) e a exposição “O feminino na escrita
de José Saramago” é aberta ao público no dia 26 de setembro no Centro Municipal
de Ponta Delgada. Na mostra, 25 telas, 21 acrílicos sobre tela e quatro
desenhos produzidos num interstício de leituras: a do livro de Pedro Fernandes,
a da obra de José Saramago e a da pintura. É um trabalho desenvolvido
ininterruptamente há dois anos.
Para Pedro Fernandes, estudioso da obra de José Saramago, e quem assina
o catálogo da exposição, o trabalho de Lena “reúne muitas peculiaridades: não
somente porque estamos diante de mãos femininas já prendadas na arte da invenção
de outras maneiras de ser mulher, mas porque a artista se encontra motivada em
simultâneo pela escritura [...] ensaística e pela romanesca, extraindo desse
encontro figurações que são síntese e limiar de uma ação interpretativa”.
A exposição fica à disposição dos visitantes até o dia 23 de outubro.
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