segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

14 anos da recepção do Prêmio Nobel por José Saramago

por Fernando Gómez Aguilera* 

José Saramago e Pilar del Río em cerimônia de recepção do Prêmio Nobel de Literatura em 1998.


No dia 10 de dezembro, por ocasião do banquete oferecido aos prêmios Nobel de 1998, após a entrega oficial da medalha, o escritor dedicou seu discurso à denúncia da falta de cumprimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos por parte dos governos, coincidindo com o quinquagésimo aniversário da Carta. Sem dúvida, um gesto que enfatiza seu interesse em colocar o assunto em um lugar relevante de sua agenda crítica, mas também em transmitir sua preocupação com a vulnerabilidade e a miséria em que se desenvolve a vida de milhões de pessoas, diante da passividade do mundo.

Para Saramago, os direitos humanos constituíram um binômio inseparável dos deveres humanos e representavam a outra face da moeda da democracia. Deslocando a questão da grave falta de atenção para com a Declaração para a responsabilidade dos indivíduos e das instituições, ele assinalava que a satisfação de nossas obrigações éticas exigiria fazer frente às dilacerantes consequências da insolidariedade, da desigualdade, da injustiça e da privação de liberdades existentes nos cinco continentes, sob graus e formas diferentes.

O autor de Objecto quase dirigiu suas críticas, especialmente às autoridades, por sua hipocrisia, mas também aos cidadãos, cujo silêncio cúmplice ele desaprovava, instando-o, ao mesmo tempo, a se rebelar diante do sofrimento, a abandonar a indiferença. Saramago expôs sua beligerância contra uma situação de fracasso que julgou calamitosa e incongruente com a desejável dignidade das democracias ocidentais. Defendeu, por isso, a ideia de que a globalização neoliberal é incompatível com os direitos humanos, como provaram a fome, a exclusão, as desigualdades, a dominação e a violência que castigam o mundo.

De modo proativo, sugeria à esquerda que a orientação de qualquer programa político progressista já estava contida na Declaração, que, se executada, seria em si mesma um projeto suficiente de garantias e de restauração da justiça. A regeneração da democracia e o respeito aos direitos humanos constituem, na sua avaliação, os dois objetivos estratégicos deste século para a humanidade.


Leia AQUI o discurso feito por Saramago no Jantar do Palácio Real, no dia 10 de dezembro de 1998, ocasião de recepção do Prêmio Nobel de Literatura.


* SARAMAGO, José. As palavras de Saramago - catálogo de reflexões pessoais, literárias e políticas. Organização e seleção de Fernando Gómez Aguilera. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário