terça-feira, 6 de julho de 2010

Academia Brasileira de Letras homenageia José Saramago




“Deixa muita saudade, porque saudade, em grande parte, é aquela vontade que a gente tem de perguntar as coisas que nunca perguntou e que gostaria de saber que resposta teriam”, afirmou a mais antiga professora de literatura portuguesa no Brasil, Cleonice Berardinelli.

Emocionada, a professora de literatura contou que todos os livros que tem de Saramago são autografados pelo autor e comoveu-se ao ler uma das dedicatórias. “Para a brasileira mais querida dos escritores portugueses. Toda a admiração e amizade do José Saramago. Não é linda?”, perguntou.

Amiga pessoal de Saramago, a acadêmica contou que se correspondia com muita frequência por e-mail com o escritor e a sua mulher, Pilar. “Ele sempre me dizendo coisas tão boas, tão amigas. Ele me disse uma coisa belíssima. Cleonice, como você sabe, eu fui eleito sócio correspondente da Academia, mas ainda não tomei posse. Que tal se fizéssemos a nossa festa juntos? Para mim, seria um prazer e uma honra. E eu, instintivamente, disse: e, para mim, uma glória”, evocou.

Berardinelli participou na homenagem a Saramago, na sede da ABL, na noite de segunda-feira, no Rio de Janeiro, e declarou sentir um “prazer imenso” ao ler qualquer texto de Saramago. “Qualquer um deles, desde os poemas até aos últimos que escreveu para a Fundação Saramago”, afirmou, acrescentando que, “além dos versos e da abundante ficção, Saramago escreveu peças de teatro, todas muito bem realizadas e que alcançaram êxito. Uma delas chegou a ser transformada em ópera”.

Na homenagem, o embaixador e historiador Alberto da Costa e Silva, amigo próximo de Saramago, declarou que o escritor “escrevia com paixão e vivia apaixonadamente”. “Amava a controvérsia, lidava com as polêmicas, era generoso e franco, fiel às convicções que trazia da juventude e que jamais quis ter o desgosto de abandonar. Acarinhava as amizades, amigo de muitos anos, bem sei disso”, sintetizou.

Segundo o professor de língua portuguesa e literatura brasileira, Domício Proença Filho, Saramago “deixa saudade e, sobretudo, uma contribuição da maior relevância para a literatura de língua portuguesa”. “Ele deixa uma contribuição bastante valiosa tanto para a literatura de língua portuguesa como para a própria língua, na medida em que a sua literatura é de renovação e inovação. Muito ainda se estudará a obra de José Saramago”, salientou.

A 9 de Julho de 2009, Saramago foi eleito sócio correspondente da ABL, tendo o escritor ficado de marcar uma data para ir ao Brasil receber o prêmio, o que nunca chegou a fazer, impossibilitado pelo debilitado estado de saúde.

©Diário Digital / Lusa

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