Saramago e Pilar (à direita), com a equipe por trás do documentário 'José & Pilar' (Foto: Arquivo pessoal) |
“Se eu tivesse morrido aos 63 anos antes de lhe ter
conhecido, morreria muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora”.
É assim, a partir de uma bela declaração de amor de José Saramago à esposa
Pilar Del Río, que o diretor português Miguel Gonçalves Mendes inicia o filme 'José
& Pilar', documentário inédito com data de estreia prevista para novembro
no Brasil.
O longa, que levou três anos de filmagem, é um retrato
íntimo do escritor - que morreu nesta sexta-feira (18), aos 87 anos - ao lado
da jornalista espanhola, 28 anos mais jovem. Os dois se conheceram em 1987 e,
segundo Mendes, completavam-se. “Ela lhe deu uma segunda vida. Ela é lutadora,
vive a batalha de mudar o mundo, enquanto ele era português: melancólico,
sereno... Uma combinação perfeita”, resume o cineasta, em entrevista por
telefone ao G1.
O documentário tem como ponto de partida a criação do
romance “A viagem do elefante”, de 2008, e termina na viagem de divulgação dele
no Brasil. Mas, como o título sugere, o filme é sobre José e Pilar que, de tão
apaixonados, tiveram seus nomes escolhidos para batizar duas ruas que se
cruzavam na cidade portuguesa de Azinhaga, terra natal de Saramago.
"Quero, sobretudo, que as pessoas os vejam como eu os
vejo e partilhar com todos e de uma forma condensada o saber que eles possuem.
Qual a sua visão do mundo e em que é que acreditam. No fundo quero que quem
assista a este filma sinta que conheceu de uma forma muito íntima estas duas
pessoas, que são brilhantes", explica.
Mendes explica que o “José e Pilar” também relata a origem
pobre de Saramago até os anos mais recentes, de agenda atribulada. “Sua saúde
estava muito debilitada na época das filmagens. Eu mesmo não imaginava que
conseguisse terminar o livro. Ele não só o fez como escreveu outro, ‘Caim’, o
que só mostrava a sua força”, explica.
Durante a entrevista, Mendes teve dificuldades para falar
sobre o escritor. Comentou que, apesar de Portugal estar em luto, Saramago foi
muito injustiçado em seu país ao ser chamado de ateu e comunista.
"Algumas pessoas dizem que José era um incendiário. Mas
Saramago não era incendiário, era simplesmente lúcido! E tentou, dentro do
possível, melhorar o mundo através do impacto que as suas opiniões podiam ter
naqueles que as ouvissem. Ao contrário da arrogância que algumas pessoas
afirmavam, ele será de uma doçura e simpatia incríveis. Para não falar no seu
sentido de humor, que é brilhante. Mas, como dizia, ele não tinha culpa da cara
que tinha”.
“José & Pilar” é uma produção da brasileira O2 Filmes
(de Fernando Meirelles) com a espanhola El Deseo e deve ser lançado
simultaneamente no Brasil, Portugal e Espanha em 16 de novembro, dia de
aniversário do autor.
© Portal G1.com
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