segunda-feira, 25 de maio de 2020

Maria Velho da Costa e José Saramago, relações





No dia 13 de outubro de 1998, em depoimento para o jornal Diário de Notícias, Maria Velho da Costa assim se referiu ao Prêmio Nobel de Literatura então atribuído a José Saramago:

“Recebi a notícia com muita alegria. A primeira reacção foi infantil e espontânea, porque é uma pessoa por quem tenho muita estima e respeito, por termos passado juntos por experiências políticas e profissionais. A segunda foi mais elaborada: só lhe posso desejar a continuação de felicidades, que ele mereceu após tantos anos de dificuldades na via.”

Em 1979, ela dividiu espaço com o escritor no livro Poética dos cinco sentidos. A escrita dessa obra foi encomendada pela editora Bertrand; os convidados deviam escrever sobre cada um dos seis tapetes que compõem a tapeçaria “La Dame à la Licorne” (A dama e o unicórnio), conservados no Museu de Cluny, em Paris. As peças foram tecidas no vale de Loira em torno de 1500.

Os textos decorrentes dessa inspiração estão alinhados pelo tom alegórico que cada um dos escritores se valeu para interpretar as representações dos tapetes: o texto que Maria Velho da Costa escreveu foi “A vista”; José Saramago, “O ouvido”; Augusto Abelaira, “O olfato”; Nuno Bragança, “O gosto”; Ana Hatherly, “O tato”; e Isabel da Nóbrega, “A sexta”.

No correr dos Cadernos de Lanzarote saltam ocasiões de encontros dos dois escritores, como a visita que realizaram com Vergílio Ferreira e Maria Lourdes Belchior a uma escola nos Estados Unidos em 1984 a convite de Mécia de Sena ou a participação numa mesa em 1994 com Almeida Faria sobre o tema “Caminhos do romance contemporâneo”.

Maria Velho da Costa ficou reconhecida com a publicação censurada em 1972, Novas cartas portuguesas, obra que, diferente de Poética dos cinco sentidos, é manifestamente de escrita e autoria híbridas (com Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta). Escreveu, dentre outros, Maina Mendes (1969), Casas pardas (1977) e Myra (2008). Pela sua obra, recebeu inúmeros prêmios, entre eles, o Prêmio Camões em 2002.

Nascida em Lisboa, em 1938, Maria Velho da Costa faria 82 anos no próximo dia 26 de junho. A escritora morreu neste 23 de maio de 2020 em Lisboa.

Por Pedro Fernandes
Co-diretor da Revista de Estudos Saramaguianos

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