quarta-feira, 5 de julho de 2017

Quatro companhias portuguesas juntaram-se para adaptar "História do Cerco de Lisboa", de José Saramago



Raimundo Silva, revisor numa editora, solteiro, de 50 anos, é um homem apagado, daqueles funcionários que cumpre as suas tarefas sem dar muito nas vistas. Porém, ao ler uma obra intitulada História do Cerco de Lisboa, ele tem vontade de fazer uma alteração: introduzir um "não". Essa simples palavra iria implicar uma enorme mudança na história pois significaria que os Cruzados não teriam ajudado Afonso Henriques a conquistar Lisboa aos mouros, em 1147. Descoberto, Silva mete-se em apuros na editora. No processo, o revisor apaixona-se pela sua supervisora, Maria Sara, ao mesmo tempo que pensa como há de recontar a história do cerco num novo livro. A conquista amorosa desenrola-se a par da conquista dos portugueses aos mouros.

Esta é, em traços largos, a História do Cerco de Lisboa, contada por José Saramago no livro de 1989, e que a dupla espanhola José Gabriel Antuñano (dramaturgia) e Ignacio García (encenação) transformou em espetáculo numa megaprodução de quatro companhias de teatro: ACTA - A Companhia de Teatro do Algarve, Companhia de Teatro de Almada, Companhia de Teatro de Braga e Teatro dos Aloés.

No palco, além das personagens da história, está também o próprio José Saramago, o narrador que no romance se revela em alguns momentos mas que aqui tem protagonismo: não só lhe ouvimos a voz inconfundível (são excertos de entrevistas) como ganha um corpo e uma presença constante com o ator Jorge Silva. "Interessou-me muito a sobreposição de planos - e esta é uma característica de muitos dos romances de Saramago", explica Ignacio García. "É como um conjuntos de matrioskas, as bonecas russas: Saramago escreve um romance sobre duas personagens, das quais uma é um romancista que está a escrever um livro e que tem as suas próprias personagens, Há um jogo de reflexos, histórias que se desenrolam em paralelo, em diferentes níveis, e que tanto no livro como no espetáculo vão lutando para captar a atenção do leitor/ espectador."

Espetáculo estreia hoje, dia 5 de julho, no Teatro Municipal Joaquim Benite, no Festival de Almada.

* Via Diário de Notícias


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