A viúva de José Saramago, Pilar del Río, adiantou hoje, num chat
com leitores do jornal espanhol El País, que a casa-museu do escritor na ilha
de Lanzarote deverá ser aberta ao público no dia 18 de Março, exatamente nove
meses após a morte do prêmio Nobel da Literatura naquela que foi a sua última
residência.
Questionada sobre a continuidade da obra de Saramago em
Espanha, Pilar afirmou a “firme vontade” de abrir a casa do escritor ao público
naquela data, “para quem quiser entrar e respirar o ar de Saramago”. A
conversa, refira-se, assinalou a estreia em Espanha, esta semana, do
documentário “José e Pilar”, de Miguel Gonçalves Mendes.
Numa entrevista concedida ao PÚBLICO em Novembro do ano
passado, a viúva do escritor tinha já antecipado alguns pormenores sobre o
funcionamento da casa-museu. Estará acessível não só a biblioteca que o
escritor ali reuniu, mas também o escritório onde Saramago escreveu “Ensaio
sobre a Cegueira”. “Durante várias horas, [a casa] estará aberta ao público e
vai cheirar a café, porque vamos dar café português a todas as visitas.
Passarão também pela cozinha, que é aberta, sairão pelo jardim. Irão à
biblioteca e à sala de reuniões onde verão fotografias de Saramago em Lanzarote
ou dele com escritores. A partir das três da tarde acabam as visitas e a casa
continuará a ser vivida pelas pessoas que a habitam e que lá estão”, explicou
Pilar del Río ao PÚBLICO.
Um dos momentos mais tocantes da conversa com os leitores do
El País aconteceu quando Pilar foi confrontada com uma afirmação de Saramago no
documentário, na qual ele diz que o céu não existe. “Onde está Saramago
agora?”, perguntou o leitor. Pilar respondeu que o escritor está nos livros que
escreveu. “Ele dizia que cuidássemos de cada livro que abríssemos porque, lá
dentro, havia uma pessoa”, disse. Saramago, acrescentou, “está na música que
ouviu, nos quadros que viu, nos livros que acariciou e, perdoem-me, está também
no meu corpo”.
Questionada por um não leitor de Saramago que lhe pediu um
motivo para passar a lê-lo, Pilar afirmou que aqueles que leem os livros do
escritor português se sentem “mais espertos, mais altos, mais bonitos e
melhores”. “Sentir-se-á respeitado como leitor, uma vez que terá que empenhar
muito de si para compreender [o que lê] e tomará consciência de que é mais
sábio do que pensava”, respondeu a viúva.
© Público
Nenhum comentário:
Postar um comentário